Transtornos de Personalidade: o que são, como se manifestam e qual é o tratamento
- José Charbel
- 4 de mai.
- 3 min de leitura

Cada pessoa tem um modo único de pensar, sentir, agir e se relacionar com o mundo. Esse padrão, construído ao longo da vida, forma o que chamamos de personalidade. Quando esses traços se tornam rígidos, desadaptativos e causam sofrimento significativo, pode estar presente um Transtorno de Personalidade.
Estigmatizados por décadas, esses transtornos ainda são cercados por desinformação e preconceito — o que dificulta o diagnóstico e afasta muitas pessoas do cuidado que merecem. Neste texto, você entenderá o que são os Transtornos de Personalidade, quais são os tipos mais comuns e como é possível tratá-los de forma ética, empática e eficaz.
O que são Transtornos de Personalidade?
Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), os Transtornos de Personalidade são padrões duradouros de experiência interna e comportamento que:
Se desviam significativamente das expectativas da cultura da pessoa
São inflexíveis e se manifestam em múltiplas áreas da vida
Causam sofrimento ou prejuízo funcional significativo
Surgem geralmente no final da adolescência ou início da vida adulta
Esses padrões afetam a percepção de si mesmo e dos outros, a forma de reagir emocionalmente, os relacionamentos interpessoais e o controle dos impulsos. Não se trata de um "traço difícil de lidar", mas de uma estrutura psíquica que precisa de acompanhamento clínico especializado.
Quais são os principais tipos de Transtornos de Personalidade?
O DSM-5 organiza os transtornos em três grupos (clusters), de acordo com as características predominantes:
Grupo A – Comportamento excêntrico ou estranho
Transtorno Paranoide: desconfiança excessiva e interpretação hostil das intenções alheias.
Transtorno Esquizoide: isolamento, distanciamento emocional e pouco interesse por relações interpessoais.
Transtorno Esquizotípico: padrões de pensamento e comportamento excêntricos, com crenças incomuns e desconforto em relações sociais.
Grupo B – Comportamento dramático, emocional ou impulsivo
Transtorno Antissocial: desrespeito pelas normas sociais, impulsividade, manipulação e falta de empatia.
Transtorno Borderline (limítrofe): instabilidade emocional intensa, medo de abandono, impulsividade e relacionamentos caóticos.
Transtorno Histriônico: necessidade constante de atenção e aprovação, teatralidade e emotividade excessiva.
Transtorno Narcisista: grandiosidade, necessidade de admiração e falta de empatia.
Grupo C – Comportamento ansioso ou inibido
Transtorno Evitativo: timidez extrema, medo de rejeição e sensação constante de inadequação.
Transtorno Dependente: necessidade excessiva de cuidado e submissão para evitar rejeição.
Transtorno Obsessivo-Compulsivo de Personalidade (TOCP): rigidez, perfeccionismo e preocupação excessiva com regras, em contraste com o TOC clínico, que envolve pensamentos obsessivos e rituais.
Como os Transtornos de Personalidade afetam a vida?
Por serem inflexíveis, esses padrões afetam a forma como a pessoa:
Se percebe e interpreta o mundo
Se relaciona com amigos, parceiros, colegas e familiares
Lida com emoções intensas ou situações de estresse
Toma decisões e organiza sua rotina
Em muitos casos, os pacientes não identificam o transtorno com facilidade, mas sentem-se constantemente em conflito com os outros, insatisfeitos com a vida ou emocionalmente instáveis. Transtornos de humor, ansiedade, uso de substâncias e episódios dissociativos são comorbidades frequentes.
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico exige experiência clínica, escuta empática e tempo de acompanhamento. Não basta observar um traço isolado — é necessário avaliar a persistência, a intensidade e os prejuízos causados pelos padrões comportamentais.
Critérios utilizados envolvem:
História de vida e funcionamento interpessoal
Padrões emocionais e cognitivos
Presença de comorbidades
Aplicação de escalas específicas, quando indicado
A Dra. Anlles Viana conduz essa avaliação com respeito à subjetividade de cada paciente, evitando rótulos precipitados ou abordagens reducionistas.
Qual é o tratamento indicado?
O tratamento dos Transtornos de Personalidade é individualizado, multidisciplinar e contínuo. Não se busca “mudar a personalidade”, mas construir maior flexibilidade psíquica, autonomia emocional e estabilidade relacional.
As estratégias mais eficazes incluem:
Psicoterapia: principal eixo do tratamento. Abordagens como a Terapia Cognitivo-Comportamental, a Terapia Dialética Comportamental (DBT), a Terapia do Esquema e a Psicoterapia Psicodinâmica são frequentemente utilizadas.
Tratamento medicamentoso: pode ser indicado para tratar sintomas associados, como depressão, ansiedade, impulsividade ou instabilidade de humor.
Psicoeducação: para o paciente e, quando possível, para familiares e rede de apoio.
Acompanhamento a longo prazo, com foco na evolução gradual das habilidades emocionais e sociais.
O vínculo terapêutico é um dos pilares mais importantes — e deve ser construído com constância, ética e confiança.
Transtornos de Personalidade não definem quem uma pessoa é. Eles representam formas de funcionamento psíquico que podem — e devem — ser compreendidas, cuidadas e acompanhadas com seriedade. Com o suporte certo, é possível reduzir o sofrimento, melhorar os relacionamentos e promover maior qualidade de vida.
A Dra. Anlles Viana, médica psiquiatra com atuação centrada na escuta e na clínica baseada em evidências, oferece acompanhamento cuidadoso e ético para pessoas com transtornos de personalidade, construindo caminhos possíveis de transformação emocional e autonomia.
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